Historicamente o transporte coletivo é bandeira de muitas campanhas políticas. Mas, infelizmente, a abordagem sobre o serviço nem sempre é assertiva ou propositiva, sendo tratada muitas vezes com demagogia. Transporte público de qualidade, acessível, sustentável, com conforto, frequência, financeiramente viável e ainda com baixa ou nenhuma tarifa seria o cenário ideal para sociedade, empresários e poder público. Mas, como chegar lá? Essa é a questão que precisa ser respondida pelos candidatos e, posteriormente, solucionada pelos eleitos. Discursos eloquentes são vários, mas na prática, como transformá-los em realidade?

Neste ano em especial, em que fomos surpreendidos por uma pandemia, a situação que já era difícil no setor de transporte coletivo, ficou evidentemente pior. Em Porto Alegre, chegamos a transportar somente 20% da demanda em relação a períodos anteriores ao coronavírus. Agora, embora retomando gradualmente, o serviço sofre para atingir os 50% de passageiros e dificilmente voltará ao que era antes. A expectativa é que fique em 80%. Por isso, a tarefa dos eleitos é ainda mais complexa. Dar conta de uma equação que já não fechava e que agora têm números mais discrepantes.

Ao poder público cabe, além de corretamente cobrar por qualificação no serviço, apresentar e aplicar propostas concretas que o tornem viável. Com a crise que atinge empresas de ônibus de todo o país, a missão é desafiadora, mas fundamental para a sobrevivência do setor. Precisamos que os governos, em todas as esferas, entendam que o transporte coletivo necessita ser prioridade nas cidades e que ele precisa fazer parte das políticas públicas, sejam elas de subsídio ou relacionadas à infraestrutura.

O modelo de sustentação baseado somente na tarifa não se aplica mais. Temos visto que ele não é suficiente para compor os custos e ainda torna cada vez menos acessível a passagem paga pelo passageiro. É preciso fomentar fontes de receita extratarifárias que sejam revertidas em prol do cliente, custeando gratuidades e outras demandas dos usuários. É preciso também desonerar o setor, seguindo a lógica de que o transporte é direito social, garantido pela Constituição.

Mais do que um meio de locomoção, o ônibus não pode ser visto como componente isolado da mobilidade. É necessário investir na infraestrutura, aprimorando vias e criando faixas exclusivas, apostando na prioridade semafórica, entre outros recursos que deem ao coletivo a preferência no trânsito. Ora, se um ônibus transporta o equivalente a 48 carros ocupando um espaço muito menor e emite oito vezes menos CO2 por passageiro que um automóvel, não seria lógico que ele tivesse prioridade nas vias? Não somente eu, mas diversos especialistas em mobilidade têm convicção que sim. O apelo individual não pode se sobrepor ao bem coletivo. Uma cidade somente com carros é uma cidade estagnada, no sentido literal e metafórico da palavra.

Diante do cenário de incerteza sobre o futuro do transporte público, precisamos que os atuais governantes olhem para o serviço com comprometimento, cientes de sua essencialidade para a mobilidade e para uma cidade mais ativa, sustentável e saudável.

Por Stamatula Vardaramatos – Presidente da ATP