A “ordem mundial” atual é o achatamento das curvas epidêmicas para que os sistemas de saúde comportem a demanda de pessoas que contraíram a Covid-19, o que resultará no salvamento de diversas vidas.
As curvas epidêmicas, sejam elas logarítmica, exponencial ou parabólica, apresentam o seu formato muito semelhante às curvas de demanda da mobilidade urbana ao longo do dia.
Exatamente como as curvas epidemiológicas, as curvas da mobilidade urbana têm picos que geram diversos problemas de ordem econômica e social.
Os horários de pico, ou hora do “rush”, são as faixas horárias que concentram maior número de deslocamentos pelos motivos trabalho, educação, saúde e lazer.
O achatamento da curva da mobilidade seria uma importante política urbana que além de diminuir gargalos no tecido urbano das cidades, reduziria a pressão de aumento e manutenção da infraestrutura de transporte nas principais metrópoles.
Viria ao encontro de outra necessidade, em tempos de pandemia, fazendo com que alguns perfis de passageiros ou atividades alterassem seus horários de circulação nos transportes de massa.
Um exemplo bem específico é a política que Porto Alegre implantou recentemente e que está gerando bons resultados. Pessoas acima de 65 anos, os chamados isentos, estão proibidos de circular no transporte coletivo nos horários de pico. Essa medida traz dois benefícios diretos. Primeiro, distribui esses usuários, que fazem parte do grupo de risco, para faixas horárias com maior oferta de lugares, evitando aglomerações. E segundo, reduz a quantidade de recursos necessários para executar a matriz de transportes.
Mantendo-se esta política, e agregando outras tantas de cunho estrutural, certamente teríamos uma forte redução nos custos de transportes.
Praticamente tudo no nosso entorno é dimensionado pelos picos da mobilidade urbana; ruas, estradas, órgãos públicos, supermercados, shoppings, escolas.
Será que não está na hora de refletirmos que se alterarmos – e não precisa ser muito – os horários de início e término de algumas atividades, teremos uma cidade muito menos congestionada, menos poluída,com mais calçadas, ciclovias e parques?


Antônio Augusto Lovatto – engenheiro de Transporte