Nesta semana, tivemos um dos primeiros de vários falecimentos que estão por vir nas linhas do sistema de transporte coletivo. A linha de lotação Chácara das Pedras sucumbiu mediante o “preço” dos aplicativos de transporte particular.

A devassa não está somente no sistema de lotação. Os táxis, que foram os principais atingidos no momento do surgimento dos aplicativos, já reduziram a oferta em mais de 30%. O sistema de transporte coletivo por ônibus de Porto Alegre amarga uma perda, em quatro anos, de 26% de passageiros e redução de 12% na oferta de viagens.

Várias cidades brasileiras, que nos últimos três anos tiveram que licitar os sistemas de transporte coletivo, simplesmente não encontraram interessados para operar. Novo Hamburgo, por exemplo, acumulou na semana passada a segunda licitação “deserta”, ou seja, sem propostas.

A queda da demanda não ocorre somente no Brasil. Cidades como Londres, Nova York e Los Angeles também estão apresentando redução no passageiro transportado e elevação nas taxas de congestionamento. Isso que estamos falando de cidades com excelentes redes de metrô e ônibus.

Podemos expandir esta análise também para o âmbito intermunicipal, onde as rodoviárias do Interior, sem exceção, apresentam déficit financeiro em cima de déficit nos últimos anos.

O curioso é que a principal empresa de aplicativos de transporte do mundo vem acumulando prejuízos anuais na casa de bilhões e a própria presidente da empresa declara que se praticam tarifas subfaturadas. Na verdade, estamos claramente diante de uma prática de dumping.

Talvez somente nos daremos conta do tamanho do “terremoto” que assola os sistemas de mobilidade urbana no momento em que as tarifas dos aplicativos não forem tão “camaradas” como eram antigamente. Mas, infelizmente, será tarde, pois provavelmente não haverá outra alternativa de deslocamento.

Engenheiro de transportes – ANTÔNIO AUGUSTO LOVATTO

lovatto@dirigidaconsultoria.com.br

Fonte: Zero Hora