Os aplicativos em transporte vêm acumulando várias derrotas nos últimos  meses. Antes disso, eles já eram proibidos em diversos países, como  Itália, Dinamarca, Hungria, Bulgária e Turquia. Mais recentemente,  Londres, Alemanha e agora a Colômbia, decretaram o fim deles. Outras  cidades ou países determinam alguma restrição ou impõem regulações mais  severas. Nova York, por exemplo, implementou uma lei em que o motorista  de aplicativo deve receber o salário mínimo. Em pesquisa realizada,  constatou-se que 85% dos motoristas recebiam menos do que o mínimo.
 
 Vale destacar que essas companhias são acusadas, constantemente, pela  prática de dumping e competição desleal. Tem empresa que acumulou  prejuízo próximo a US$ 8 bilhões em 2019, o que gerou a demissão de  centenas de funcionários. Outro fato que chama a atenção é a queda das  ações dessas companhias: 30%, em média, desde as estreias na bolsa de  valores. Parece claro que a entrada no mercado de capitais tem como  objetivo a busca de financiamento para a continuação das operações de  dumping.
 
 Se a intenção é criar um caos nos sistemas de transporte das principais  cidades do planeta, é importante lembrarmos as autoridades de que o  Chile já experimentou o remédio amargo da desregulação. Dez anos após  esse “experimento”, o Chile voltou a ter um sistema 100% regulamentado.
 
 Como afirma Eduardo Vasconcelos: “Mercados altamente desregulados  provocam um aumento inicial da oferta, mas causam também aumentos  tarifários, de congestionamentos e poluição, levando os sistemas para  uma elitização”.
 
 Os aplicativos ou as economias digitais, em geral, além de alterarem o  comportamento das pessoas, estão alterando algo também preocupante, que é  a arrecadação fiscal de municípios, Estados e União. Como a maioria  desses aplicativos não é “made in Brazil”, fica pouco da sua arrecadação  em solo brasileiro. Em contrapartida, os EUA vêm saboreando uma das  menores taxas de desemprego da sua história, algo em torno de 3%.
 
 O futuro desse modelo de transporte é incerto, mas o preço praticado por  esses sistemas não se sustentará. Primeiro, porque o limite de  tolerância dos investidores, quanto às empresas de aplicativos não  proverem lucros, está chegando ao fim. E, segundo, a taxação das tarifas  de aplicativos é uma das poucas alternativas para a sustentabilidade do  sistema de transporte convencional.
 
 Por Antônio Augusto Lovatto – Engenheiro de Transporte                          
