Muito se fala sobre a região de Gramado e Canela como a parte do Rio Grande que “deu certo”. Há 40 anos, um dia bastava para o turista desfrutar de todos os atrativos da cidade. Já na chegada da região, tinha-se como ponto alto “o caminho das hortênsias”. Depois, visita na Cascata do Caracol e no Pequeno Mundo. Por fim, chocolates, um farto café colonial e descia-se a serra. Atualmente, pela quantidade de atrações e atividades que a região possui, uma semana não é suficiente para usufruir as opções de lazer. Todo esse desenvolvimento tem um motivo fundamental: investimento com duplicação na RS 239 e RS 115. Antigamente, o fluxo predominante era pela BR 116.

Na contramão disso está São José dos Ausentes, a cidade mais fria do estado e que tem como vizinhos os famosos Cânions e o pico do Montenegro. Uma região pouco desenvolvida, com potencial turismo enorme, mas com um problema central: os 50km que ligam Cambará do Sul à São José dos ausentes são de terra e pedra.

Quando focamos na infraestrutura urbana de Porto Alegre e pinçamos o principal agente no ato de transportar pessoas, o ônibus, verificamos que o modal é pouco valorizado e deixado a margem em decisões importantes em relação à mobilidade urbana.

Isso que o Brasil, em especial o Rio Grande do Sul, tem as principais fábricas de carrocerias do mundo, com filiais e subsidiárias espalhadas pelos quatro continentes. Não tem o menor sentido possuirmos tecnologia embarcada a nível mundial, mas em contrapartida não termos no mesmo grau de qualidade e quantidade, corredores, faixas exclusivas, terminais e paradas, com o objetivo de reduzir “distâncias”, tempos de viagem e custos tarifários.

Essa falta de investimento vem produzindo efeitos há muito tempo. Um exemplo bem presente é a descentralização acelerada e desordenada, sem o correto uso e ocupação do solo, que Porto Alegre vem assistindo. Essa “debandada” do comércio e atividades em geral do Centro de Porto Alegre, está diretamente ligada a pouca atenção despendida por agentes públicos em infraestrutura e políticas públicas em transportes.

Antônio Augusto Lovatto, engenheiro de Transportes.