A referência a quem utiliza transporte coletivo, pela mídia e outras áreas, costuma ser genérica e, algumas vezes, pouco lisonjeira. Enquanto em outros setores, o cliente é tratado com tal nomenclatura, no transporte coletivo parece que ele não teria alcançado esse patamar. Ou será que existe alguma resistência do empresário ou do gestor público no reconhecimento desse valor? Tenho convicção que não, pois o cliente é a razão do nosso trabalho e do nosso empenho por avanços.

Talvez falte um entendimento mais amplo, difundido na sociedade e por nós mesmos, de que o transporte coletivo, como os demais segmentos, também opera na filosofia de satisfação de quem o utiliza. Um serviço essencial que propulsiona o desenvolvimento, a economia e a mobilidade urbana, precisa das pessoas para prosperar, assim como a cidade precisa do transporte coletivo para evoluir.

O desafio é grande. É necessário buscar formas de atrair o cliente, oferecendo mais facilidades, agilidade, tecnologia, conforto e informação. Essa equação é complexa, considerando que a crise atingiu em cheio o setor. Números divulgados pela própria NTU mostram que, no Brasil, os ônibus urbanos perderam 17% dos usuários entre 2012 e 2017.

Mas, se fizermos um paralelo com a evolução do marketing, veremos que os tempos atuais são favoráveis. Os estudiosos da área, como o consultor e especialista em marketing em transporte, Roberto Sganzerla, mencionam que a partir de 2005 (no Brasil a partir de 2010) temos o surgimento de uma nova era, onde “valores” se tornam o centro da questão. Essa era nos abre um leque de oportunidades, já que, sob o aspecto mercadológico, nunca houve um tempo tão propício para a promoção do transporte coletivo como agora. O nosso serviço contribui para a mobilidade urbana, para as cidades ser tornarem mais sustentáveis e para o planeta respirar melhor. Isso é valor, comenta Sganzerla.

De acordo com Philip Kotler, no livro Marketing 3.0, em vez de tratar os indivíduos simplesmente como consumidores, devemos tratá-los como seres humanos plenos, com mente, coração e espírito. Portanto, são tempos que convergem para a prática do que fazemos: trabalhar para as pessoas e para o bem comum!

O atual secretário de mobilidade urbana de Porto Alegre, Rodrigo Tortoriello, disse recentemente em um encontro com empresários, que o lema deve ser “hashtag nem um passageiro a menos”. Ele comentou que é preciso acordar todos os dias e pensar: “O que eu posso fazer hoje para conseguir conquistar mais um cliente?”.

O fato é que a atuação de cada um, do operacional ao estratégico, é fundamental nessa empreitada. E todos nós temos esse compromisso!

Tula Vardaramatos, presidente da Associação dos Transportadores de Passageiros de Porto Alegre

Fonte: Revista NTU Urbano