A mobilidade sustentável é um assunto de interesse mundial, tanto que o tema está entre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). Ao todo 193 países, incluindo o Brasil, se comprometeram em adotar medidas para tornar as cidades mais seguras, inclusivas e sustentáveis. O Brasil está testando algumas soluções inovadoras envolvendo pontos de ônibus que contribuem para um mundo mais sustentável. Com a utilização de materiais menos agressivos ao meio ambiente, as paradas ecológicas também contribuem para a autonomia dos passageiros do transporte coletivo e seguem as indicações de acessibilidade.

O exemplo de Cuiabá                                 

O projeto “Adote um ponto”, realizado em Cuiabá (MT), conta com modelos diferentes de paradas de ônibus, que priorizam o conforto do usuário e foram concebidas de acordo com a ideia de desenvolvimento sustentável. “As equipes da Semob mapearam toda a cidade, por meio de um levantamento fotográfico que apontava as principais necessidades em cada bairro”, explica Antenor Figueiredo, secretário de Mobilidade Urbana de Cuiabá.

A Estação Alencastro, inaugurada no início de 2018, é um dos modelos que deve ganhar mais espaço na capital. Segundo a prefeitura, a estrutura é composta por placas solares responsáveis pela geração de toda a energia consumida e será adotada em outros dois importantes pontos de Cuiabá: um na Praça Ipiranga e outro na Praça Bispo.

Reaproveitamento de contêineres

Além da iniciativa positiva para geração de energia limpa, o reaproveitamento de contêineres é a grande novidade para os próximos abrigos de Cuiabá. O modelo foi baseado na adaptação de contêineres utilizados no transporte de carga. Todo o material, que seria descartado, passa por um processo de recuperação que permite obter, no mínimo, mas 15 anos de vida útil na nova função.

O primeiro contêiner foi instalado este ano como ponto de ônibus na Avenida Historiador Rubens de Mendonça, famosa Avenida do CPA. Os espaços estão sendo transformados em abrigos com acesso facilitado para cadeirantes, gestantes, idosos e obesos. Além disso, os passageiros podem contar com o conforto de uma boa iluminação, painéis de LED com informações atualizadas dos ônibus, conexão Wi-Fi, entradas USB para recarregar celulares e uma pequena biblioteca.

Outros fatores importantes são o isolante térmico no teto e os bancos feitos com filetes de madeira, com o objetivo de reduzir o calor. Além disso, jardins suspensos formados por plantas ornamentais também foram adotados para amenizar a temperatura que, em dias mais quentes, chega aos 40 graus. A prefeitura ainda defende que a iniciativa reduzirá a poluição visual, uma vez que as paradas serão uniformizadas.

Ao todo, a capital mato-grossense oferece 2.500 locais de espera, entre abrigos e placas que indicam paradas de ônibus. A iniciativa da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Semob), em parceria com a Secretaria Extraordinária dos 300 Anos, visa substituir 400 pontos de ônibus da cidade que apresentam problemas estruturais. Os novos abrigos serão instalados em regiões que movimentam de 5 a 10 mil passageiros diariamente.

O secretário Antenor Figueiredo defende que, assim como nas demais cidades brasileiras, a crescente demanda de Cuiabá gerou desafios para o setor. “O número de paradas se tornou insuficiente para a cidade e desde 2016 buscamos alternativas para tentar solucionar essa questão”, afirma.

Custo alto é compensado

A sustentabilidade exige um investimento alto que nem sempre o poder público é capaz de arcar. A captação de energia solar representa um grande desafio financeiro devido aos valores elevados das placas solares. No entanto, a nova forma de produzir energia é vista como ‘sinônimo’ de sustentabilidade pelo engenheiro de energia Maurício Miranda. “A energia do Brasil é basicamente abastecida por hidrelétricas e isso, além de afetar a fauna e a flora, gera impactos sociais que podem ser amenizados com uso da energia limpa”, alerta.

Quanto aos benefícios das placas instaladas nos pontos de ônibus, além da preservação do meio ambiente, o especialista destaca a estabilidade e economia. “Apesar do custo elevado do material, estamos falando de uma fonte que não é esgotável e o retorno do investimento estará sempre presente na economia de fiação, energia e no valor baixo das manutenções”, fala Miranda, que aposta na energia solar como o futuro do país.

Pensando nesse cenário e nos demais gastos para a instalação das paradas ecológicas, os idealizadores do “Adote um ponto” encontraram a melhor solução na parceria público-privada. De acordo com a prefeitura de Cuiabá, será feito um chamamento público para que as empresas interessadas possam se manifestar e custear o projeto. Em troca da construção e manutenção do local, as empresas poderão usar o espaço para publicidade com um prazo mínimo para exploração de cinco anos.

Conforto e sustentabilidade no BRT de Uberaba

A conscientização sustentável chegou a Uberaba (MG) através do BRT (Bus Rapid Transit). O sistema é um grande investimento da cidade para melhorar o transporte público da região e reduzir o tráfego que cresceu, consideravelmente, nos últimos anos. De acordo com dados do ITDP (Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento), Uberaba atingiu, na última década, um aumento de mais de 60% na taxa de motorização. A média era de 223 automóveis a cada mil habitantes em 2005, mas subiu para 359 em 2015.

As novas estações do BRT são de formato retangular e possuem cobertura sanduíche para atender questões térmicas e acústicas. Para a secretária executiva Cristiane Mendes, é notória a diferença em relação aos demais pontos da cidade. “Ainda estamos nos acostumando com as novidades, mas não tenho a menor dúvida de que a espera pelo ônibus ficou bem menos estressante”, afirma.

Ela diz isso pelas novidades que as estações sustentáveis oferecem para os passageiros do setor. Quem escolhe trocar o carro pelo BRT pode usufruir diariamente de estações com ar-condicionado, câmeras de vigilância com videomonitoramento e portas com sistemas antiesmagamento, além de espaços totalmente acessíveis e cerca de 30 painéis eletrônicos, que informam sobre embarque e desembarque em tempo real.

O projeto também conta com o sistema de aproveitamento da água da chuva. Com um tanque para depósito instalado no subsolo, o objetivo é utilizar a água armazenada para limpeza das estações e manutenção dos jardins conjuntos. Segundo a prefeitura, a alternativa foi adotada para que o espaço, além de acessível, seja ambientalmente sustentável.

Parada ecológica na capital do país

Um protótipo instalado no campus Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília (UnB) também promete trazer uma nova definição de ponto de ônibus. A parada feita de bambu e eucalipto é resultado de um projeto de pesquisa desenvolvido pelo Centro de Pesquisa e Aplicação de Bambu e Fibras Naturais da UnB (CPAB/UnB), com a colaboração de alunos de graduação e pós-graduação, pesquisadores e técnicos da universidade.

 

O professor de arquitetura e idealizador do projeto, Jaime Almeida, conta que a motivação surgiu a partir de pesquisas que mostraram a baixa eficiência dos pontos de ônibus atuais. “Nós entendemos que as paradas do Distrito Federal (DF) são mal projetadas e acreditamos que o projeto possa dar um bom retorno para quem utiliza o transporte público”, diz.

A parada de bambu possui um formato específico para proteger os usuários do transporte público da chuva e do sol enquanto esperam. A chapa metálica usada na cobertura foi pensada para o conforto em relação à temperatura e também para evitar que a umidade diminua o tempo de vida útil da instalação.

Segundo Jaime Almeida, a escolha dos materiais utilizados foi baseada em diversos ensaios laboratoriais sobre a resistência dos produtos. O professor também ressalta o potencial social do projeto, já que a maior parte dos produtos pode ser produzida no DF. “São materiais de baixo consumo energético e que podem estimular uma cadeia produtiva de valor social, ao ajudar o homem do campo e gerar mais empregos na cidade também”, explica Jaime Almeida.

Ao que parece, o projeto tem agradado. Para Laiane Santos, 23 anos, a nova parada está mais que aprovada. “Ficamos muito tempo por aqui e é muito bom ter um lugar agradável enquanto esperamos o ônibus para voltar para casa”, afirma a estudante de sociologia, que diz torcer por mais opções em outros pontos do DF e entorno.

O protótipo está sendo avaliado do ponto de vista dos estudantes que utilizam o espaço e dos profissionais que avaliam a durabilidade e resistência do material. A intenção é encerrar a análise em janeiro de 2019 para que, a partir dos resultados, os pesquisadores possam pensar em novas adaptações, caso necessário.

Dependendo do resultado, a parada de bambu pode virar realidade em breve para outras regiões. “Se o resultado for positivo para o conforto e resistência, as instituições interessadas poderão multiplicar o ponto de ônibus ecológico e colaborar com uma cidade ambientalmente sustentável”, destaca o professor da UNB.

 

Fonte: Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos – NTU